Ao forçar a demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o presidente da República, Jair Bolsonaro, fez um cálculo político arriscado, porém inteligente: ainda que a saída do juiz símbolo da luta contra a corrupção no Brasil possa significar perda de apoio entre a militância lavajatista, com a demissão de mais um superministro, fica claro que o presidente decidiu não mais se sujeitar a ser coadjuvante em seu próprio governo.
O primeiro passo na estratégia de retomada do protagonismo palaciano foi a troca, na semana passada, no comando do Ministério da Saúde. Saiu de cena o popular Luiz Henrique Mandetta, ministro que aparecia em lives sertanejas e tinha aprovação de 70% da população – o dobro do apoio do eleitorado a Bolsonaro –, e entrou em seu lugar o discreto Nelson Teich.
O fato de o país atravessar momento crucial no enfrentamento à pandemia global de coronavírus, porém, é mero detalhe nesse estratagema que pretende fazer Bolsonaro recobrar o protagonismo perdido nos apenas 16 meses de mandato. Para entender o que leva um presidente a entrar em rota de colisão com os principais nomes de seu governo é preciso entender, primeiro, como chegamos até aqui. Desde a campanha presidencial, a gestão Bolsonaro foi marcada pela terceirização de responsabilidades. Nas poucas entrevistas e debates eleitorais que compareceu, o então candidato tinha sempre a resposta certa para qualquer pergunta relacionada aos rumos da economia. “Pergunte ao Paulo Guedes”, ele dizia.
A frase-bordão virou carta branca para que Paulo Guedes acumulasse poder nunca antes visto na Esplanada dos Ministérios. A Sergio Moro foram dados poderes igualmente de um superministro. Sob comando do ex-juiz da Lava-Jato estiveram os ministérios da Justiça e da Segurança Pública, as polícias Federal e Rodoviária Federal, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e, no início da gestão Bolsonaro, também o antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), órgão que combate a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas.
A Moro, no entanto, não foi dado o principal instrumento de trabalho de qualquer ministro: a autonomia. E isso começou a ser evidenciado quando o então ministro tentou emplacar a cientista política Ilona Szabó para uma vaga de suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Não conseguiu e teve de retirar o convite. Em julho do ano passado, outro golpe: Bolsonaro avisou a Moro que pretendia demitir o diretor-geral da PF, o delegado Maurício Valeixo. O que o presidente não esperava era que Moro decidiu bater de frente. Ao presidente restou, como prêmio de consolação, demitir o do cargo o então superintendente da PF no Rio de Janeiro.
Ao forçar a demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o presidente da República, Jair Bolsonaro, fez um cálculo político arriscado, porém inteligente: ainda que a saída do juiz símbolo da luta contra a corrupção no Brasil possa significar perda de apoio entre a militância lavajatista, com a demissão de mais um superministro, fica claro que o presidente decidiu não mais se sujeitar a ser coadjuvante em seu próprio governo.
O primeiro passo na estratégia de retomada do protagonismo palaciano foi a troca, na semana passada, no comando do Ministério da Saúde. Saiu de cena o popular Luiz Henrique Mandetta, ministro que aparecia em lives sertanejas e tinha aprovação de 70% da população – o dobro do apoio do eleitorado a Bolsonaro –, e entrou em seu lugar o discreto Nelson Teich.
O fato de o país atravessar momento crucial no enfrentamento à pandemia global de coronavírus, porém, é mero detalhe nesse estratagema que pretende fazer Bolsonaro recobrar o protagonismo perdido nos apenas 16 meses de mandato. Para entender o que leva um presidente a entrar em rota de colisão com os principais nomes de seu governo é preciso entender, primeiro, como chegamos até aqui. Desde a campanha presidencial, a gestão Bolsonaro foi marcada pela terceirização de responsabilidades. Nas poucas entrevistas e debates eleitorais que compareceu, o então candidato tinha sempre a resposta certa para qualquer pergunta relacionada aos rumos da economia. “Pergunte ao Paulo Guedes”, ele dizia.
A frase-bordão virou carta branca para que Paulo Guedes acumulasse poder nunca antes visto na Esplanada dos Ministérios. A Sergio Moro foram dados poderes igualmente de um superministro. Sob comando do ex-juiz da Lava-Jato estiveram os ministérios da Justiça e da Segurança Pública, as polícias Federal e Rodoviária Federal, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e, no início da gestão Bolsonaro, também o antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), órgão que combate a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas.
A Moro, no entanto, não foi dado o principal instrumento de trabalho de qualquer ministro: a autonomia. E isso começou a ser evidenciado quando o então ministro tentou emplacar a cientista política Ilona Szabó para uma vaga de suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Não conseguiu e teve de retirar o convite. Em julho do ano passado, outro golpe: Bolsonaro avisou a Moro que pretendia demitir o diretor-geral da PF, o delegado Maurício Valeixo. O que o presidente não esperava era que Moro decidiu bater de frente. Ao presidente restou, como prêmio de consolação, demitir o do cargo o então superintendente da PF no Rio de Janeiro.
Corta para abril de 2020. Após ter rompido com a imprensa, com líderes do Congresso e com a cúpula do Judiciário, Bolsonaro foi atropelado pelo maior desafio de seu governo: o enfrentamento da pandemia do coronavírus. Entre brigas com governadores e atritos com seu próprio ministro da Saúde, o presidente entendeu que, diante do quadro de elevada tensão institucional, já não mais poderia terceirizar responsabilidades. Decidiu trazer a crise para o seu colo e indicou um nome que aceitasse o abrandamento do isolamento social, ainda que isso signifique um risco elevado de ver dispararem os casos de contágio e mortes.
Com a demissão de Moro, a vantagem era dupla: além de se livrar da concorrência de mais um superministro, Bolsonaro poderia, enfim, ter acesso privilegiado a detalhes de inquéritos da Polícia Federal que são do seu interesse, o que era impossível com Moro no Ministério e Valeixo no comando da PF. O que Bolsonaro não esperava era que o ex-juiz iria cair atirando. Ou que a munição usada seria tão forte. Um erro não previsto em um cálculo político já demasiadamente arriscado.
Ministros, na analogia política, são como fusíveis em um quadro de luz. Em caso de curto-circuito, o fusível que sofreu o maior dano é sacrificado para proteger o bem maior: o presidente. Com Bolsonaro, o que temos visto é o contrário: o presidente tem desligado seus melhores fusíveis, aqueles que poderiam lhe dar maior proteção. A dúvida é se o presidente e seu entorno de generais e ministros ideológicos terão força para absorver sozinhos todos os choques que se avizinham contra seu governo. Afinal, sem fusíveis para queimar, quem protege o quadro de luz?
Bancillon é uma agência especializada em Reputação, o conteúdo acima é uma análise da situação e não representa qualquer posicionamento político-partidário da empresa.